quinta-feira, 17 de maio de 2012

O CONCÍLIO VATICANO II E A RENOVAÇÃO DA IGREJA

Mensagem do episcopado brasileiro por ocasião das comemorações do cinquentenário


Caros irmãos e irmãs!

1. Nosso Grupo de Trabalho realiza, nesta Assembleia Geral, a missão que lhe foi confiada: colaborar na motivação das comemorações do cinquentenário do Concílio Ecumênico Vaticano II, propondo atividades aos vários organismos e colaborando na divulgação e organização de algumas atividades especiais. 
Nesta 50ª AG de nossa Conferência, pretendemos quatro coisas: 1) motivar a Igreja no Brasil para a comemoração do 50º aniversário do Concílio; 2) apresentar algumas informações relevantes a respeito dos períodos antepreparatório e preparatório do Concílio, e da primeira Sessão; 3) apresentar propostas para as orientações gerais relativamente às comemorações; 4) abrir a palavra aos Senhores Bispos, para poderem expressar-se a respeito dessas comemorações.
2. No século XX, os Papas Pio XI e Pio XII chegaram a pensar em convocar um Concílio e até determinaram que se fizessem estudos sobre sua viabilidade. Mas foi o Beato João XXIII que, para grande surpresa de todos, no dia 25 de janeiro de 1959, no encerramento da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, na Basílica de São Paulo fora dos Muros, comunicou sua decisão de convocar um Concílio Ecumênico, "tremendo um pouco de emoção mas, ao mesmo tempo, com humilde firmeza de propósito" (Discurso aos Cardeais, 25/01/1959). E o fez sem prévios estudos ou consultas.
O próprio João XXIII descreve a origem dessa decisão de modo piedoso e belo. Detenhamo-nos um pouco a refletir sobre a interpretação que o Papa deu à origem dessa ideia. Ele afirma que foi uma "inspiração divina, cuja espontaneidade nos atingiu como um golpe súbito e imprevisto" (Mensagem ao clero de Veneza, 21/04/1959). E, ainda: "A ideia do Concílio não amadureceu como um fruto de prolongada consideração, mas como uma flor de inesperada primavera" (Discurso aos assistentes da Ação Católica Italiana, 09/08/1959). Noutra ocasião, afirmou: "num momento, iluminou-nos a alma uma grande ideia, percebida naquele instante e aceita com indizível confiança no Divino Mestre" (Discurso a um grupo de venezianos, 08/05/1962). No solene discurso de abertura do Concílio, o célebre Gaudet Mater Ecclesia, encontramos a seguinte descrição: "o primeiro e imprevisto florescer no nosso coração e nos nossos lábios da simples palavra "Concílio Ecumênico" [...] foi algo de inesperado: uma irradiação de luz sobrenatural, uma grande suavidade nos olhos e no coração" (GME, III, 1). 3. O próprio Papa João XXIII também nos fala da finalidade da convocação do Concílio. Em sua primeira Encíclica, Ad Petri Cathedram, de 29 de junho de 1959, ele afirmou serem três os objetivos: o "incremento da Fé Católica", a "saudável renovação dos costumes no povo cristão" e a "melhor adaptação da disciplina da Igreja às necessidades dos nossos tempos" (Encíclica Ad Petri Cathedram, X, 29/06/1959). Em um discurso ao Conselho Geral da Ação Católica, ele acrescenta a finalidade ecumênica do Concílio, que deveria ser uma consequência da renovação eclesial: "o primeiro e principal escopo do Concílio seria apresentar ao mundo a Igreja de Deus em seu vigor perene de vida e de verdade e sua legislação adaptada às circunstâncias presentes; depois disso é que poderemos dizer aos irmãos separados: esta é a vossa casa; esta é a casa dos que levam o sinal de Cristo" (Discurso, 14/02/1960). E, de modo sintético e muito bonito, em uma homilia a um grupo bizantino-eslavo, ele fala mais diretamente da renovação eclesial como finalidade do Concílio: "restituir, no semblante da Igreja de Cristo, o esplendor dos traços mais simples e mais puros de suas origens" (13/11/1960). Essa finalidade renovadora foi acolhida pelo Concílio, que, no início do primeiro documento aprovado, a Constituição sobre a Sagrada Liturgia, Sacrosanctum Concilium, assim a expressa: "o sagrado Concílio se propõe fomentar a vida cristã entre os fiéis, adaptar melhor às necessidades do nosso tempo as instituições suscetíveis de mudança, promover tudo o que pode ajudar à união de todos os crentes em Cristo, fortalecer o que pode contribuir para chamar a todos ao seio da Igreja" (SC, 1).
4. O "clima" de diálogo e participação que o Concílio estimulou em toda a Igreja tem, também ele, raízes em atitudes e decisões de João XXIII. No início da preparação do Concílio, o Papa quis que se fizesse uma ampla consulta a todos os Bispos, às Universidades Católicas, à Cúria Romana e às Ordens e Congregações Religiosas a respeito dos temas que deveriam ser tratados. Não quis, porém, uma consulta com temas fixados de antemão, como sugeria a minuta da carta que lhe foi apresentada. Ele quis essa consulta aberta, para que cada Bispo e cada organismo consultado propusesse livremente suas sugestões. Isso deixou uma marca indelével no desenvolvimento do Concílio: fixou definitivamente a convicção de que ele é obra da Igreja, assistida por Deus e fiel à sua missão, em diálogo com os desafios concretos da realidade presente. Este estilo de atuação em que predomina o diálogo marcou profundamente a consciência da Igreja.
5. A finalidade pastoral do Concílio Vaticano II pode ser compreendida a partir do grande discurso de abertura, o já mencionado Gaudet Mater Ecclesia, do qual tomamos dois pontos centrais. Depois de ter recordado que a finalidade principal de um Concílio é que "o depósito sagrado da doutrina cristã seja guardado e ensinado de forma mais eficaz" (GME, V, 1), o Papa faz uma distinção que se tornou clássica: "é necessário que esta doutrina certa e imutável, que deve ser fielmente respeitada, seja aprofundada e exposta de forma a responder às exigências do nosso tempo. Uma coisa é a substância do "depositum fidei", isto é, das verdades contidas na nossa doutrina, e outra é a formulação com que são enunciadas [...]. Será preciso atribuir muita importância a esta forma e, se necessário, insistir com paciência, na sua elaboração; e dever-se-á usar a maneira de apresentar as coisas que mais corresponda ao Magistério, cujo caráter é prevalentemente pastoral" (GME, VI, 5). 
E, recordamos, ainda, outra precisação muito importante, que o Papa em seguida acrescenta: "a esposa de Cristo prefere usar mais o remédio da misericórdia do que o da severidade [...] Ela deseja mostrar-se mãe amorosa de todos, benigna, paciente, cheia de misericórdia e bondade" (GME, VII, 2.3).
A pastoralidade do Magistério, o estilo dialogal, as atitudes de bondade e misericórdia: tais são as características queridas pelo Papa para a renovação da Igreja, como fruto do Concílio.
6. Portanto, com as comemorações do cinquentenário do Concílio, juntamente com o renovado conhecimento de seus documentos, queremos reviver e repropor o "espírito" do Concílio, que está sempre estreitamente ligado ao corpo documental que ele nos legou. Reviver o Concílio é progredir com determinação na aplicação de suas decisões, na assimilação do estilo adotado pelo Concílio. 
Colocamo-nos, pois, em profunda sintonia com o Papa Bento XVI, que convida toda a Igreja a entrar nesse cinquentenário renovando e aprofundando sua fé, comprometendo-se decididamente na nova evangelização e na transmissão da fé, por meio do Ano da Fé, que proclamou com a carta apostólica Porta fidei.
Queremos, portanto, continuar a acolher o Concílio como dom e como graça de Deus para a Igreja em nossos dias, como luz para nosso empenho evangelizador e força para nossa atuação no mundo atual.
7. O cartaz do cinquentenário do Concílio é composto de três imagens agrupadas: dos Papas do Concílio - João XXIII e Paulo VI - e da Assembleia Conciliar, reunida na Basílica de São Pedro. Os dizeres convidam a olhar para o Concílio incluindo a história de sua aplicação ao longo das cinco décadas já transcorridas: "Concílio Vaticano II: 50 anos depois". Como não se trata de uma simples recordação do passado, mas de um compromisso presente, os dizeres do cartaz procuram também envolver, por meio do convite: "Ouçamos o que o Espírito diz à Igreja" (cf. Ap 2, 7). A citação livre do Apocalipse que recorda a dimensão pneumatológica do Concílio e seu apelo atual. O folder tem indicações gerais referentes ao Concílio, as sugestões de nosso Grupo de Trabalho para o período das comemorações, e uma oração para este rico período, que a bondade de Deus nos concede vivenciar.
Além disso, o GT preparou uma exposição de material fotográfico, documental e de estudos sobre o Concílio. Depois da AG, parte da exposição será transferida para um recinto preparado no Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, onde estará aberta aos Romeiros. Para os próximos anos, pretendemos ampliar essa exposição, abrangendo gradativamente imagens e material das outras Sessões do Concílio, ano a ano, acompanhando assim o desenrolar do Concílio. 
Como já devem ter notado, também foi preparada exposição referente ao Concílio. Trata-se das projeções, feitas no Plenário da Assembleia, entre as Sessões e nos intervalos, para ajudar-nos a nos envolvermos profundamente no "clima" do Concílio. Na medida do possível, queremos reviver o ambiente conciliar, que a maioria de nós acompanhou com emoção e grandes expectativas, nos anos de nossa juventude.


Fonte: L'OSSERVATORE ROMANO
Publicamos o texto da mensagem dos membros do episcopado brasileiro, assinada pelo cardeal Odilo Pedro Scherer, arcebispo metropolitano de São Paulo e presidente do grupo de trabalho realizado por ocasião das comemorações do cinquentenário do Concílio Vaticano II.

A VIDA CRISTÃ À LUZ DA ASCENSÃO


Pensar o cristianismo é refletir sobre uma forma de vida elaborada e sistematizada de forma bastante complexa e simples ao mesmo tempo. Complexa para todo aquele que se põe a avaliar-lhe o sentido último e primordial, simples para aquele que busca com sua fé a luz para compreender o Mistério de onde a sua vida encontra sentido. Muitas vezes somos tentados a justificar a Ressurreição de Jesus Cristo e sua Ascensão como um fato de onde meramente emerge nosso compromisso cristão de continuar o projeto do Reino de Deus na história.
É preciso lembrar o fato de que concomitantemente a isto encontramos a variável de que há uma revolução antropológica e teológica na compreensão até então vigente. Até o momento o característico a toda expressão de fé era a existência de um “espaço sagrado” e um “mundo profano”, onde há a necessidade de existirem locais onde “Deus” habita, estabelece sua morada. No momento da Ascensão, esta forma de compreender a presença de Deus é totalmente quebrada e renovada. Deus que se encarnou, torna-se presença no mundo e com o mundo, bastando àquele que crê perceber a presença de Deus na humanidade. O grande ponto inovador do cristianismo é esse: “ver no outro a presença de Deus, e reconhecer em si mesmo tal presença”.
A partir do momento em que ocorrer a Ressurreição inicia-se o movimento da Glorificação da humanidade. O Corpo glorioso de Cristo é ápice de toda a glória da humanidade, Deus se faz plenamente humano, experimentando toda a alegria e toda a dor, imerso completamente na “carne”. Deus que se fez presença em ‘um’ homem. Com a Ascensão, ele revela que não se faz mais presença em ‘um’ corpo, em algo material, mas sim transcende e perpassa toda a realidade. Os homens buscam Deus, mas não o encontram mais em ‘um’ ser. Na glorificação realizada pela ressurreição Deus se faz presença na humanidade. Deus está em toda a humanidade e a humanidade toda está em Deus. Pode-se dizer com plena certeza que durante sua vida na terra, Deus se faz em Jesus Cristo presença física e visível, com a Páscoa e a Ascensão torna-se uma presença espiritual, mais profunda e universal, encarnado não em um corpo, mas na própria humanidade.
Assim, a vida do cristão é iluminada pela vivencia de um Ministério arraigado ao Mistério da Encarnação de Deus, da sua presença viva e eficaz no tempo e no espaço. Muitas vezes há a tentativa de se tirar Deus do mundo, alegando sua morte. Mas, a Igreja deve ser o sinal de sua presença nos dias de hoje. Ao iniciar este texto lembrava de que a luz da fé é que faz compreender o Mistério do Cristo no mundo. A Igreja como depositária da fé deve ser este Sacramento Universal de Salvação para a humanidade. Na Igreja se vive a comunhão, tornando possível a Salvação, jamais pode-se pensar salvar o indivíduo, uma pessoa, mas sim a humanidade. O compromisso do cristão é ser o quanto mais possível humano e revelar na sua vida a própria humanidade que tanto Deus amou e na qual se encarnou. A Solenidade da Ascensão do Senhor é o convite para os cristão serem fieis testemunhas do Reino de Deus, o qual foi anunciado como possibilidade para a Humanidade por Jesus Cristo.
Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

COMO A IGREJA PODE SER FONTE DE ESPIRITUALIDADE? O QUE ELA APRESENTA COM SUA VIDA?


Para responder a esta pergunta, podemos partir inicialmente da última parte da pergunta, sobre a “Vida da Igreja”, melhor ainda, a “Vida na Igreja”. Espiritualidade, no seu sentido existencial, é algo proeminente do ato de ser humano de cada pessoa, que pensa e age. Por isso, partir do princípio de que a Igreja seja Fonte de espiritualidade para o cristão, é pensar a Igreja como entidade viva no mundo e com o mundo. Tantas e quantas vezes, percebemos pessoas que dizem ser a Igreja nada mais, ou nada menos, que uma instituição humana, e que a mesma está fadada a um dia sucumbir do decorrer da História da Humanidade. Frente a essa situação, emerge a necessidade de que tal Instituição tem de se firmar na realidade vivida de cada ser humano, no cotidiano do mundo, fazendo resplandecer o seu projeto e sua atividade na História.
Não se pode pensar a Vida da Igreja sem levarem-se em consideração alguns elementos vitais, como a Palavra de Deus, tanto presente na Bíblia, quanto no Magistério da Igreja, os quais revelam a presença total e plena de Deus na realidade histórica. Cito também a Missão da Igreja nas mais diversas situações cotidianas nas quais se encontra inserida (dentro dos cinco continentes e nos 194 países, além dos mais 50 territórios ainda não independentes). Dentro dessa perspectiva, perscruta-se o sinal de que a Igreja deve ser Sacramento Universal de Salvação para a Humanidade. E, por fim, a Igreja é o Mistério de Deus, que se revela em Jesus Cristo, por meio de sua encarnação.
A Vida da Igreja tem seu sentido e existência na multiplicidade de carismas, ministérios e funções, expressas das mais diversas formas por Sacerdotes, Irmãs(ãos) Consagradas(dos), Leigos(as), nas inúmeras funções que realizam dentro da sociedade contemporânea, levando com sua vida e testemunho a luz de seus carismas. Não se pode pensar um ministério desconexo da vida cotidiana, ele é todo imerso nela, buscando significar-se e dar sentido para as atividades diárias. A função do cristão católico, não se resume a apenas ir à Igreja, nas missas, rezar e jejuar. Isto faz parte intrínseca de sua vida, mas perde todo seu significado se não servir para dar sentido à vida da pessoa. São Tiago é uma luz para nossa espiritualidade dentro da Igreja: “a fé: se não se traduz em ações, por si só é morta” (2,17). Mas, não podemos ficar tentados apenas a fazer coisas e deixar a fé de lado, “é necessário para vós nascer do alto [Espírito]” (Jo 3,7). A fé em Cristo nos chama a uma vida nova, a um novo comprometimento com a própria vida humana, não aceitando dicotomias e extremismos, pois ambos são condenáveis, dentro da ótica cristã.
A Igreja, no decorrer de sua história foi criando uma estrutura social, por estar dentro da sociedade, e como tal tem permanecido por muitos séculos. Esta forma de organização emerge de uma construção humana da Instituição Igreja, mas ela quer revelar a ideia de uma forma possível de ser administrada. Inúmeras críticas são lançadas a sua estrutura ‘hierárquica’, mas não são de todo em vão, pois há uma constante necessidade de pensar o ideal de ‘comunhão’ dentro desta estrutura. Pois, tantas e quantas vezes, visivelmente têm-se aqueles que compõem a “Estrutura Hierárquica da Igreja”, realizarem mandos e desmandos, por ordem do poder político-religioso-estrutural-temporal que possuem, e esquecem que todo seu poder emana do Serviço, os quais deveriam fazê-lo (podemos lembrar rapidamente do Lava-pés) de forma gratuita e humilde. Ou ainda, temos aqueles que a guisa da Comunhão, esquecem do princípio da Obediência, e não poucas vezes, levam inúmeras pessoas a terem uma visão desvirtuada do ser Igreja, envolvidas apenas com causas sociais, desalmadas de qualquer sentimento de fé, desempenhando nada mais do que uma ação política.
As Sagradas Escrituras e o Magistério da Igreja quando, na fidelidade do seguimento de Cristo, anunciam e denunciam, proclamando a Boa-Nova da Libertação do Homem e a plenificação de sua existência durante a Vida temporal, numa dimensão de fé consciente e livre cumprem com sua missão. O Serviço da Igreja é buscar que todo homem alcance condições dignas de vida e sua salvação esteja garantida de forma a transcender a realidade temporal (desde o corpo/alma até o espírito – Isto é Antropologia Transcendental) e pessoal (desde o eu até o outro – você/ele). O Sacramento Universal de Salvação é que toda a humanidade seja congregada numa mesma fé, num mesmo amor, num mesmo Deus, porém que haja o respeito e a liberdade de crença, onde reside o fato de que todo ser humano pode encontrar a Deus dentro de sua fé, sua crença. O Católico é aquele que concebe a toda a humanidade criada e querida por Deus, e como tal deve ser amada, respeitada e defendida.
A multiforme graça de Deus é o fato de que Ele age em tudo e em todos, onde se expressam os mais diversos dons e carismas, os quais são congregados todos em um só Espírito. Tudo o que a humanidade constrói de acordo com suas mais diversas funções devem sempre estar a serviço de todas as pessoas. Nossos dons, talentos e carismas, só tem significado se forem colocados à disposição dos outros, caso contrário, só servirão para atender aos nossos instintos egoístas e anticristãos. Toda a obra realizada em nome da Igreja deve ter em vista todas as pessoas que possam usufruir a mesma, não pode ser algo fechado que vise apenas o bem de um grupo, comunidade, movimento, pastoral, paróquia, diocese, congregação, etc... Se caso ocorrer de nossas obras estarem beneficiando mais a quem fomenta e menos quem é o objetivo da ação, está se caindo em uma situação de contradição e perda do carisma inicial, do amor que funda toda a nossa ação. Por vezes, somos tentados a dizer que precisamos pensar no futuro, mas precisamos lembrar: “Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão dadas por acréscimo” (Mt 6,33). Esta perícope faz parte do que é conhecido por Sermão da Montanha, e no seu início fala sobre as aves dos céus e os lírios do campo, e lembra que a Providência de Deus jamais esquecerá as necessidades humanas e suscitará quem delas possa cuidar.
Por fim, é necessário lembrar que: “No Símbolo dos Apóstolos, fazemos profissão de crer uma Igreja Santa, e não na Igreja, para não confundir Deus e suas obras, e para atribuir claramente a bondade de Deus todos os dons que ele colocou na sua Igreja” (CIC, 750). A Igreja temporalmente pode não ser perfeita, mas sua finalidade é divina.

Por uma espiritualidade eclesial

É preciso lembrar que uma Espiritualidade equilibrada não pode limitar-se a liturgia, pois isso significaria menosprezar a plena eclesialidade da Igreja. Porém, afastar-se da liturgia é desconhecer o caráter escatológico da Igreja e optar pela realidade puramente material do mundo; A Liturgia é o momento privilegiado de comunhão e participação para a evangelização que conduz a libertação cristã integral e autentica. Ir a missa aos domingos e abster-se de carne nas sextas feira não faz penetrar a santidade no coração do mundo, quando faltamos a esse compromisso de santidade, que é nossa tarefa peculiar, estamos apagando os sinais destinados a criar a Igreja no coração do mundo;
A medida de nosso cristianismo e de nossa vida como Igreja, é sempre a autenticidade de nossa comunhão com os outros e de nosso amor ao próximo. É preciso lembrar que a nossa Igreja é Igreja no homem de Jesus Cristo. E a nossa espiritualidade de Igreja deve ser na pessoa de Jesus Cristo. A graça redentora de cristo é duplamente vista na Igreja: 1º lugar, de modo ministerial e institucional, no carisma do ministério hierárquico e 2º através da vida do povo de Deus vitalizado pela graça do espírito de Cristo. Cremos numa Igreja concreta, realmente existente, não numa Igreja abstrata e Ideal, mas na Igreja viva do Cristo, presença visível da graça entre nós, na qual existe também o pecado. Essa Igreja é o objeto de nossa fé.
A Igreja é por certo Santa. A Santidade é sua essência. E essa santidade não pode se tornar invisível senão o mundo mergulha nas trevas; A Igreja é a salvação em forma visível e é sinal repleto daquilo que significa. Os seus membros só podem pecar a medida em que se esquivam de seu influxo santificador.
Levar a presença da Igreja de Cristo entre os que são arrastados pela com certeza da vida, inspirando o desejo de salvação, possibilitando-lhes a abertura para a fé. Uma espiritualidade da Igreja deve fazer brilhar pelos seus membros um raio de amor desinteressado num mundo que é explorador. Uma espiritualidade que se diz da Igreja não deve estar a favor de um ou de outro sistema social. A Igreja visa Exclusivamente o homem e sobretudo ao homem marginalizado e despojado de sua dignidade e de seu prestigio. Não podendo ser entendida erroneamente como conflito ideológicos entre classes que se transformam em violência. A primeira condição é o amor de Jesus Cristo. É este amor que faz o Cristão.

A espiritualidade da Igreja é: de uma comunidade formada por aqueles que ouvem o chamado de Jesus a segui-lo, é uma comunidade aberta a uma missão universal. Esta Igreja é de Cristo. É construída sobre a rocha, ou fundamento, Pedro. Nessa Igreja todos são discípulos porque Cristo é o Único mestre do qual todos devem aprender. Nessa Igreja todos são irmãos, porque todos são filhos e filhas de um pai. Nela deves-se cuidar sobretudo dos pequenos porque são os que mais precisam de proteção. Deve-se viver a correção fraterna e o perdão incondicional.